A boca é uma cavidade feita de carne, pele, ossos, músculos, saliva, tendões e órgãos – dentes e língua – que ingerem um bolo alimentar que foi mastigado, caso corretamente, trinta vezes por cada lado. Uma caverna podre que pode ser mantida limpa com a tecnologia das escovas e pastas de dente que encontramos nos supermercados e farmácias (por um valor de troca bem acima do aceitável).
A boca também é moeda de troca. Troca de saliva, troca de desejos, troca de insultos, de mágoas e de arrependimentos. Oferecemos, vendemos, compramos e empurramos, boca a dentro, goela a baixo, a pele, a carne, o osso, o músculo e a vida também daquele carinha que foi cuspido e afogado pelo mar. Mar de sujeira, mar de mentiras, mar de escarradas, mar de prazer e o de água também.
Do boca-a-boca vem a dádiva, vem a mentira e a fofoca, vem a notícia e o compartilhamento. Da boca nasce uma ideia gerada dentro de uma cabeça fértil que ordena a morte de outras mais férteis ainda. Pela boca, caga o camarão e morre o peixe, vomita o homem e come o homem que já devorou tudo o que não podia mais.
E agora, fica em silêncio, espástica, sem dizer mais nada.
Pedro Antonacci Porciúncula escreve desde 2005, mas somente em 2010 passou a encarar a escrita com seriedade, tornando-se um dos coordenadores do livro “Poetas de Pijama da FURG”. Atualmente ele é autor e editor do projeto Inspira (no Facebook | no Instagram) que tem a proposta de publicar contos, crônicas e poemas em formatos de leitura rápida, e escreveu o livro Epifonia, pela editora Chiado Books.
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