Entre olhares de curiosos e mãos cheias de toques, algumas repulsas e ascos. Alguns dedos sangrando, lascas de sangue aos pingos no chão de areia. Alguns rostos inquietos e maldições de rezadeiras.
Uma menina se aproximou sem medo. O brilho olhando e o meu coração em resposta, quase que um estardalhaço. A mãe logo veio afoita, puxou-a pelo braço e se foram.
Outro senhor foi chegando. Riu-se da coisa e balançou a cabeça. Devia ele já ter tido um daqueles um dia. Trancou na gaveta num gesto “me esqueça”.
Meu coração exposto na feira. Minha alma esquecida no ponto de ônibus. E nada parecia estar certo.
A moça por trás dos óculos veio e olhou e apalpou sem erro. Nem corte, nem talho no dedo, nem sangue, nem medo, nada.
— leva?
— é caro
— é de graça
— ainda é caro
Léo Ottesen é um escritor, poeta, educador e revisor/preparador de textos natural de Rio Grande/RS. É membro da Sociedade dos Poetas Papareias e redator da revista Subjetiva e do site Português é Legal. Publicou os livros de poesia “mas enfim” (2015) e “para elos: poemas dedicados” (2016), a novela “Caio: a primavera das pessoas” (2016) e a coletânea de contos e crônicas “Sobre sete cores brilhantes” (2018). Também se aventura na música e no cinema – sem muito sucesso.
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