Este texto foi produzido a partir da Oficina de Escrita Criativa O corpo conta.
É como se fosse combustível, mas quem precisa de combustível para dormir? Deve ser por isso que eu não durmo. Durmo, mas durmo pouco. Um dia assisti um filme onde uma mulher não sabia ao certo como preferia que seus ovos fossem preparados: a textura da gema, ou algo assim, nem lembro. Mas me dei conta, naquele dia (claramente estou mentindo, não foi naquele dia nem em outro) que talvez eu também não soubesse como preferia algumas coisas. Lá inicia a grande jornada atrás de mim mesma, eu com meus tentáculos tentando juntar tudo de mim, tudo fora de mim, o plano era não deixar escapar nada. Escolhi ele como parâmetro para simbolizar a vida adulta. Saber pedir pelo nome correto sem chutar pelo cardápio como se fosse mais uma das minhas maluquices. Coisa séria. Para saber pedir ao certo, também deveria entender o preparo: que para mim era um grande tabu. Instantâneo, por máquinas, meias ou filtros de papel. Não era habilidosa com nenhuma técnica, também não queria ser. Deixar o processo ser mais lento do que deveria, saborear ansiedade, insônia, palpitações, língua queimada e amargor. Fiz um álbum, uma lista, um diário, falei sobre isso, falei, exaustão. Aprendo tudo depois apago, rabisco, derramo os tentáculos novamente. A meta é nunca mais dormir.
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Uma mistura de Gremlins com Ursinhos Carinhosos. Podcaster e Psicóloga, mais fala que escreve. Atualmente, produtora do mafagafos entre nós podcast, onde discute a loucura e psicóloga clínica onde acompanha a desmafagafização. Estuda direito à cidade, feminismo, teoria queer, aquarela e cria coisas o tempo todo.
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