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Três poemas de Daniela Delias

Atualizado: 6 de mar. de 2019


Canteiro


no vão que faz o vestido

quando afunda entre as pernas

pus as pequenas pedras

e agora invento uma cidade


que pode uma mulher

quando arquiteta um templo

sem que lhe dobre o punho

sem que lhe pese o colo

sem que se parta em muitas?


as menores coisas

dei de mover uma a uma



Curva


e se em vez de arranhar o espelho

eu pusesse a mão sobre a nuca

e ante a curva do meu ombro esquerdo

o amor escorresse lentamente?


e se em vez de partir

mil flores de nada

mil versos de quando

mil cacos em tudo

teus dedos pudessem

toda sombra todo muro

toda estrada todo monte


empurraríamos a pedra?



Entre


a fera repousa agora

no imenso deserto que invento

entre a boca e o colo


mas quando suas garras

cruzarem o escuro

abrirei a porta

e beijarei seus olhos


até que me queira

até que me cale

até que me diga


tenho, tenho que acordar



* excepcionalmente, a colaboração do Conchine em fevereiro saiu no primeiro domingo de março. No último domingo desse mês voltaremos com a programação normal. ;)


Daniela Delias nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul. Em 2012 publicou seu primeiro livro de poesia, Boneca Russa em Casa de Silêncios, pela Editora Patuá. Em 2015, pela mesma editora, publicou Nunca estivemos em Ítaca, também de poesia. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, em revistas literárias e no blog de poesia Sombra, Silêncio ou Espuma (danieladelias.blogspot.com.br). É também psicóloga e professora universitária. Mora na Praia do Cassino, em Rio Grande.

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