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Obrigado, André Matos

Em meados de 2001, um colega e grande amigo me perguntou se eu teria interesse em ouvir rock com música clássica. Na época, eu tinha 15 anos e usava camisa de banda, calça jeans rasgada e tênis all-stars. Escutava Nirvana, Pearl Jam, os singles do Metallica e outras bandas de rock que apareciam nas rádios. Aquela pergunta despertou minha curiosidade sobre a junção inusitada de dois estilos musicais diferentes. Estávamos no recreio do colégio e dividíamos um pacote de bolacha recheada. Respondi que tinha interesse em ouvir. Ele me emprestou uma fita cassete e na capa branca estava escrito com caneta bic “angra” e logo abaixo “holy land”.


- Cristiano, essa é uma banda brasileira que canta em inglês.

Depois da aula, fui para a casa e coloquei a fita pra rodar. Não é exagero dizer que a minha vida mudou depois da audição daquele álbum. Cada faixa, cada solo de guitarra, cada elemento brasileiro nas canções e, principalmente, a música clássica, me mostrava que eu escutava algo diferente, de tudo que eu havia experimentado. O vocalista me chamava mais a atenção por causa da voz tão diferente que chegava a mim. Até aquele dia, eu havia escutado somente o Edson Cordeio em duo com a Cássia Eller no Fantástico. E eu era pequeno e ficava impressionado com o alcance vocal dele. Agora eu me deparava com o André Matos, com a sua voz, com o seu agudo, com a sua potência.


Escutei a fita cassete várias vezes. No dia seguinte, debati sobre o álbum com o meu amigo. Já havia elegido as minhas canções favoritas e procurei saber mais sobre aquilo tão novo. Comecei a ouvir um programa de heavy metal, da rádio Ipanema, comecei a catar revistas do gênero nas bancas de jornal e, tão logo o Angra se tornou uma das minhas bandas prediletas. E o André, um ídolo para mim.


Comprei todos os álbuns, peguei autógrafos com os integrantes [na época que a banda estava em outra formação], fui em 3 shows, no Bar Opinião, e quando o André Matos, junto com outros integrantes, formaram a banda Shaman, comprei o disco e fui no show também – afinal de contas, o André continuava como minha referência de composição e de letras. Sim, as letras contavam algo, seja uma breve narrativa ou mesmo algo tão interiorizado que era difícil interpretar na tradução do português para o inglês.


A voz do André Matos fez parte da minha formação como contador de histórias: na adolescência, eu era mestre de RPG e as aventuras vampirescas eram embaladas pela sua voz; eu ouvia André Matos enquanto estudava; enquanto eu planejava os primeiros contos; enfim, André Matos fez e faz parte da minha vida. A sua passagem ainda é sentida aqui dentro e sei que agora ele deve estar metendo agudo em outro lugar ou sorrindo e atendendo fãs que também já realizaram a passagem antes dele.


A sua inteligência, o seu carisma, o seu talento, e a sua importância para a música internacional jamais será esquecida – e se depender de mim, será sempre enaltecida. Tu já estás na minha literatura, querido!


Obrigado, André. E até logo!


Cristiano Vaniel é professor de Literatura, escritor, vive em Twin Peaks, fuma Red Apple e é embalado por synthwave.

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