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Criatividade em tempos de pandemia: em ascensão ou declínio?

Prestes a completar um ano de pandemia. Devemos comemorar? Levando em conta muitas consequências em todos os aspectos que não precisamos explicar, não. Tenho lido e olhado o tempo todo notícias saindo em todos os veículos. Do Brasil e do Mundo. Pandemia se tornou um termo onipresente nos atuais tempos. Ao contrário do Mundo as notícias do Brasil são pessimistas se é sobre a saúde ou a política, com a exceção do Lula, que foi inocentado de alguns processos há pouco tempo graças à consideração do STF que julgou as práticas políticas da Lava-Jato sobre o ex-Presidente. A sua inocência rendeu positivamente muitas lideranças políticas com ideologias diferentes que desejam contar com ele para colocar o Brasil de volta aos trilhos. Entretanto, antes de concorrer as eleições de 2022, o Lula ainda enfrentará outros processos que não têm nenhuma relação com a Lava-Jato. Se até lá ele for inocentado, seria ótimo. Vamos ver, né? Já que o nosso país é uma espécie de coelho que pega casinha aleatória. Estamos completando um ano de isolamento social ou quarentena voluntária. Muitas coisas mudaram de lá para cá, especialmente na intimidade doméstica. Quando a pandemia chegou, nós levamos um choque, incapazes de imaginar o que faríamos durante o isolamento social. Devo dizer que foi um período cheio de interrogações. Eu, por exemplo, cheguei a preparar a viagem à Argentina para encontrar a minha noiva. Muitas coisas mudaram, não apenas no sentido positivo. Muitos perderam o emprego ou tiveram que se adaptar a outras formas de trabalho. Nosso país, em combate ao Coronavírus, está sem liderança nacional em termos sanitários e políticos enquanto os prefeitos e os governadores, os senadores e os deputados estaduais e federais suam tentando amenizar a crise sanitária sem o apoio do governo federal. Um telefone político e sanitário sem fio nos afeta.


Como fica a criatividade em tempos de pandemia? Ela costumava aflorar a partir de bandas culturais e sociais fora de casa. Imaginem eu, sendo surdo, lidando com a minha criatividade enquanto professor, escritor e cartunista/chargista dentro de casa. Não costumo expor minha surdez em público, sobretudo nas redes sociais por receio e insegurança. Uma espécie de identidade secreta, meus amigos. Desde a chegada da pandemia, passei a ler muito, escrever muito e desenhar muito. Verbos do meu cotidiano. Mas e a minha tese? Por incrível que pareça, em ritmo lento – confesso que eu achava a quarentena como uma ótima ideia para terminar logo a minha, mas só que não. Segundo tenho ouvido muitas pessoas, tem a ver com o lado psicológico que não somos capazes de enxergar a vida de acadêmico associada a isso em tempos de pandemia. Mas consegui fazer a minha tese avançar apesar de muita coisa ter passado. Dentro de casa, ou melhor, em quarentena/home office — porque eu trabalho sim —, procuro sempre me reinventar em termos de criatividade. Por mais exaustiva que a rotina tenha sido para nós, muito trabalho em casa e brigas com o tédio poderiam ser amenizados pelo uso da criatividade, como pegar papel e caneta para escrever um conto, tentar interagir com meus amigos nas redes sociais e fazer cursos. Uma mínima distração, pelo menos, dá fôlego pra gente. Muitos escritores, naquelas épocas inacessíveis como lugares distantes e escassez de meios de cultura e sociabilidade externa, tinham produzido muitas literaturas. Assim como os artistas que exerciam suas artes. A única diferença entre eles e nós é a comunicação. Como a gente, eles mandavam e recebiam cartas de forma imediata. O comportamento da criatividade, então, parte de cada situação e de cada persona. Queiram saber ou não, não conseguimos ser competentes em identificar os caminhos da criatividade, mas o que consideramos plausível, exatamente no nosso país, é a impotência do governo que não para de abalar a gente. Artes precisam estar presentes no mundo todo. Muitos corações querem se aquecer com textos, fotografias, esculturas e desenhos em plena temporada de pandemia. Somos feitos para administrar a criatividade. Temos que ser criativos para não deixar a criatividade em declínio. Temos que ser inteligentes para aproveitar a criatividade em ascensão. As artes, como a escrita criativa, são as vozes do povo. Uma relação mútua entre as artes e o povo. Arte em contraste com o tédio/desânimo. Mais tato físico, menos contato virtual quando não é necessário. Geograficamente, a pandemia tem contribuído para a diminuição da distância entre os lugares de aprendizagem e o povo. Que seria um indício de que provavelmente vai se manter essa estratégia quando estivermos livres para ir às ruas. Haja muita resiliência nesse momento e nos próximos para nós. Daqui a pouco a vacina vai chegar. Ter imunização a mais, com certeza, nos trará certo alívio.


Diogo Madeira é pelotense, professor, escritor, cartunista, doutorando em Letras —História da Literatura —, curte literaturas e cinemas independentes e jogar xadrez. Participou de dois livros coletivos, Vitrais: contos do Invitro (Mundo Moinho, 2014) e o romance Condomínio Saint Hilaire (Quinhentos e Cinquenta, 2018).

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