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Dororidade e as coisas bonitas da vida adulta

Atualizado: 9 de set. de 2020

Em alguma reunião, palestra ou roda de conversa da vida com o tema de negritude, escutei o termo “dororidade”. Vilma Piedade, mulher negra, pós-graduada em literatura brasileira e português e ativista dos direitos das mulheres negras surge com esse conceito abrangendo a unificação e mutualidade entre mulheres negras, explicando existir dores que só as mulheres negras compartilham.


Desde então, essa palavra não sai da minha cabeça. Até porque ultimamente eu vejo muita dor nas mulheres na minha volta. não sei se com a maturidade eu comecei a “desromantizar” as coisas ou se a vida tem sido mais dura. Uma coisa é certa e todo mundo sabe: mulheres sofrem. Bastante. Ando percebendo as dores, as inseguranças e os medos. Observo que às vezes esses sentimentos, mesmo que depois de muito tempo, ainda regem a vida de muitas mulheres incríveis que eu tenho a honra de conviver.


Mais recentemente, vivi uma dessas situações que a maturidade traz. A gente começa a ficar adulta, começa a ter amizades adultas e medos adultos. Uma das minhas melhores amigas estava (ainda está) passando por um momento de dor, muita dor. Física, emocional e mentalmente. Somos carne e unha, então o momento foi difícil pra mim que sempre tive ela como porto seguro, para ela por todas as razões possíveis e para nós duas, uma em cada lado da quarentena, nos sentindo sozinhas. Foi difícil aceitar essa dor - que nem é minha, e foi mais difícil ainda pensar em maneiras de ajudar (porque eu sou essa pessoa prática e racional, que gosta de ir direto para solução e essa minha amiga sabe disso). Foi quando eu comecei mais ainda a pensar na dororidade. Lembrei que foram muitas das nossas dores diárias que me aproximaram dela - uma das mulheres mais incríveis que eu já conheci - e de todas as vezes que ela identificou minhas dores antes mesmo de eu admitir que estava sofrendo. Acabei encontrando conforto na dororidade (o conforto que eu não encontro na sororidade mas esse é outro papo) e refletindo sobre essas coisas bonitas da vida adulta, encontrar beleza na dor sendo uma delas.


Dito isso, não quero que as nossas vidas sejam resumidas às nossas dores, por mais que a sociedade tente empurrar essa narrativa de sofrimento ainda mais para cima de mulheres negras. Recentemente, nem a Beyoncé conseguiu fugir disso, criticada por ser bilionária e por “glamourizar a negritude”, como se só a história de miséria e angústia fosse caber e ser legítima. Sei que a minha amiga é muito mais que esse episódio de dor, assim como ela sempre foi muito mais que outros momentos difíceis que ela passou. Sei também que muitas das dores dela eu posso não entender ou me identificar totalmente mas ela sabe que em mim tem lar, para descansar e chorar quando necessário. No entanto, a nossa vida, a nossa amizade e a nossa dinâmica vai muito além disso e eu acho que o segredo está nesse equilíbrio: entender que nossas dores fazem parte da nossa história mas não deixar elas se tornarem nosso legado.




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